Saúde no pós-troika. Menos medicamentos, mais baratos e menos consultas
9 de Junho de 2015

De um lado estão os médicos, que denunciam pressões para não receitar tantos exames, o que estará a condicionar as suas práticas clínicas, do outro estão os dentes a pedirem para que não lhes sejam prescritos medicamentos por falta de dinheiro para aviá-los. São algumas das conclusões retiradas do inquérito feito a três mil clínicos numa parceria da Ordem dos Médicos e do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa - para avaliar a saúde no período pós-troika. que ontem foi apresentado em Lisboa.

Os investigadores do ISCTE concluem ainda que os portugueses estão a ir a menos às consultas. E quando vão, pedem também aos médicos que prescrevam medicamentos mais baratos. Há ainda outra tendência relevante que passa pelo aumento de casos de abandono das terapêuticas prescritas por motivos económicos.

São dificuldades que, segundo coordenador do estudo, Tiago Correia já, terão começado antes da entrada da troika em Portugal, mas que pioraram nos últimos quatro anos. Cerca de metade dos médicos do SNS inquiridos afirma que há faltas recorrentes de material. No total dos médicos inquiridos, entre os do sector público e privado, mais de um terço apontou para faltas recorrentes de material nas instituições, com os autores do estudo a indicarem que "a situação é particularmente visível" no SNS. Nos centros de saúde, 60% dos médicos indicam estas falhas de material recorrentes, enquanto no sector hospitalar a taxa é de 44% dos profissionais inquiridos, em questionários enviados em Maio de 2013.

Contudo, também no sector privado se reproduz a mesma queixa, mas apenas em 29% dos médicos de consultórios ou clínicas e em 33% nos hospitais privados. Segundo o estudo, a falta de recursos nos hospitais públicos "é um traço marcante": 40% dos médicos afirmam já ter sido confrontados com falta de medicamentos.

Do sector hospitalar público, 30% dos médicos já estiverem envolvidos em cirurgias adiadas e 23% deixaram de realizar técnicas invasivas por falta de material. Quanto ao abandono de terapêuticas por parte dos doentes, entre os médicos do SNS são 60% os que referem que se registou um aumento nos últimos anos. Na psiquiatria e na pneumologia, o abandono de tratamentos é indicado por 70% dos médicos, na medicina geral e familiar por 60% e em oncologia por cerca de metade.

[Fonte: K. C. com Lusa]