400mil portugueses têm diabetes e não sabem
5 de Novembro de 2014
Todos os dias há 160 pessoas em Portugal que ficam a saber que têm diabetes. Ao todo, 13% dos portugueses com idades entre os 20 e os 79 anos têm esta doença, que anda de mãos dadas como sedentarismo e a obesidade mas, 5,7% ainda não sabem - o
que significa que há mais de 400 mil pessoas que desconhecem o diagnóstico. "É claramente um problema de saúde pública", resume o coordena dor do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes. José Manuel Boavida adianta que 25% das pessoas que morreram em 2013 nos hospitais tinham diabetes. Em muitos dos casos deram entrada nos serviços de saúde com outros problemas, mas o especialista lembra que "a diabetes constitui um factor de risco para a mortalidade" por doenças como os acidentes vasculares cerebrais ou os enfartes agudos do miocárdio.
Os dados referidos por José Manuel Boavida fazem parte do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, apresentado ontem em Lisboa e que aponta para que
mais de um milhão de portugueses tenham diabetes. Em 2009 correspondiam a 11,7% da população e agora a 13%. Os dados indicam que 40% da população já tem a doença
ou esteja em risco de a desenvolver, situação a que se chama pré-diabetes. Os mais afectados são os homens e é nesta camada da população que o subdiagnóstico é mais frequente. "Falar-se que quase metade da população tem diabetes ou está em risco não é um problema que possa ser negligenciado. É claramente um grande desafio para as estruturas de saúde e as autoridadesde saúde, até porque a diabetes não é um mal por
si mas pelo impacto que tem na vida das pessoas", afirma o coordenador do programa nacional.
José Manuel Boavida reforça que "ter ou não ter diabetes corresponde a uma diferença de risco que corresponde ao dobro" em termos de mortalidade de doenças como as
cardiovasculares e cerebrovasculares, sendo também das principais causas de cegueira e insuficiência renal. Por isso, apesar de o número de óbitos nos hospitais directamen
te atribuíveis à diabetes estar a cair registando se uma quebra de 36% em dez anos, pelo contrário os casos em que o óbito por outra doença aconteceu em alguém com diabetes cresceu 46% no mesmo período. Um dos dados que mais preocupam o presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal e coordenador do Observatório Nacional da Diabetes, Luís Gardete Correia, diz precisamente respeito às complicações provocadas por esta doença. Em 2013, o número de utentes internados nos hospitais pelo chamado “pé diabético” voltou a subir, de 1849 casos em 2012 para 2004 no ano passado. Também as amputações de membros inferiores atribuíveis à doença passaram de 1493 para 1556. Ainda assim, neste campo é positivo o facto de se estarem a fazer mais das chamadas amputações “minor” (apenas parte do pé) do que as chamadas “major” (todo o pé ou membro inferior). “Aqui na associação temos uma consulta do pé diabético e temos cerca 150 a 200 doentes todos os dias que passam por aqui e não me lembro de uma amputação nos últimos anos. É a prova de que com cuidados frequentes podemos poupar os pés e os dedos”, ilustrou Gardete Correia.Também o secretário de Estado adjunto da Saúde reconheceu que “na área da alimentação e do desporto ainda temos muito a fazer” para reduzir o número de novos casos de diabetes, mas congratulou-se com o caminho que tem sido trilhado pelos cuidados de saúde primários e pelo coordenador do programa nacional que se prepara para lançar iniciativas com os municípios. Ainda assim, Fernando Leal da Costa assumiu que falta aumentar a cobertura da população portuguesa no que diz respeito aos médicos de família, pois “a franja da população sem médico tem um risco maior de ter uma doença não diagnosticada”. “Não é só numa lógica curativa, é essencialmente numa lógica preventiva”, reforçou. Os dados mais positivos do relatório dizem precisamente respeito aos cuidados primários, que em 2013 registaram mais 8,8% de doentes (62 mil pessoas). Ao mesmo tempo que este acompanhamento de proximidade aumentou, os internamentos de pessoas com diabetes nos hospitais são cada vez mais curtos e, pela primeira vez, mais de metade dos doentes controlados nos centros de saúde tinham as análises ao sangue para controlo da diabetes dentro dos níveis ideais.
O relatório apresenta também os custos para o Estado desta doença e que ascenderam em 2013 a 1% do PIB, representando 10% de toda a factura da saúde. Ao todo, a diabetes tem custos directos anuais para o país de 1250 a 1500 milhões de euros. A despesa só com medicamentos nas farmácias chegou no ano passado aos 226 milhões, 18 milhões dos quais foram pagos directamente pelos utentes. Em 2012, os doentes pagaram 17 milhões e o SNS 191,8 milhões. “Só podemos reduzir os custos se conseguirmos reduzir o número de novos casos da diabetes, o que não se tem verificado”. comentou Leal da Costa.
 
[Fonte: Jornal Público]